domingo, 10 de outubro de 2010

Desafio: Depois da morte do dia

Desafio realizado entre Pedro Ernesto Filho e Francisco Agliberto Bezerra através de e-mail's durante o final do ano de 2009 e inicio de 2010. Os dois moraram em Brejo Santo e foram da turma 1985 do curso de Direito da UECE/URCA. Pedro trabalha como procurador do Banco do Nordeste e Agliberto é Agente de Tributos Estaduais da Secretaria da Fazendo do Estado da Bahia.
PE
A criança sente medo,
a brisa faz caridade,
o dia guarda a saudade
do sol que dormiu mais cedo,
o tempo pede segredo
escondendo a covardia,
a neve lenta e macia,
branquinha igualmente um véu
a lua brilha no céu
- depois da morte do dia.
AB
Um velho de currulepe
carregando uma cabaça
vê num coreto da praça
um moleque serelepe,
um caminhão sem estepe
na frente da padaria,
num banco um bêbado dormia
nu da cintura pra cima,
nunca quebrei uma rima
- depois da morte do dia.
PE
Assim sigo diferente,
pois quando a noite aparece
a chance de roubo cresce
assombrando muita gente,
uma barra no poente
ancora a monotonia,
uma cigarra assobia
como quem grava um CD
tudo isto a gente vê
- depois da morte do dia
(falam do sertão)
AB
Quando chove no sertão
o mato nasce ligeiro
e a umburana de cheiro
entra logo em floração,
é de causar emoção
a magistral sinfonia,
animais em cantoria
por todo lado se vê
só vão parar podes crê
- depois da morte do dia.
PE
Quando é noite enluarada
o vento dá um açoite
e o lençol pardo da noite
enxugando a madrugada,
uma novilha amojada
busca um canto pra dar cria,
o cachorro é o vigia
da casa do sertanejo
pois estas coisas só vejo
- depois da morte do dia.
AB
Quando chega a invernada
aumentam chuvas e ventos,
se não há alagamentos
é melhor para a boiada,
a paisagem transformada
enche o povo de alegria,
grasna o sapo, range a jia
e saltitante o caçote
esconde-se atrás do pote
- depois da morte do dia
PE
Uma estrela no céu brilha,
o vento evita um percurso,
um bode faz um discurso
conquistando uma novilha,
um vate canta sextilha
começando a cantoria,
na cadeira uma bacia
pra o povo botar dinheiro,
grita um bêbado no terreiro
- depois da morte do dia.
AB
Seguindo nas mesmas trilhas
que o tropeiro encarava
nos burros carga levava
por rios, vales, coxilhas,
se livrando das matilhas
abastece a freguesia,
comandando a boa guia
sabe a hora de parar
para a tropa descansar
- depois da morte do dia
Pedro Ernesto viajou
PE
Eu hoje voltei de férias
por isto, entenda a demora,
mas vou responder agora
usando palavras sérias,
retirando das artérias
o rótulo da poesia,
pra dizer em melodia
na força maior da arte,
pois tudo isto faz parte
- depois da morte do dia.
AB
Do alpendre da fazenda
observando o infinito,
no pensamento contrito
a minha alma transcenda,
pra que a mente compreenda
todo o encanto e magia,
da mais bela simetria
da despedida do sol
formatando o arrebol
- depois da morte do dia
PE
Um trovão dependurado
na nuvem cor de fumaça,
tentando pra ver se passa
no horizonte dourado,
um menino abocanhado
num taco de melancia,
enquanto a chuva desfia
o relâmpago dá um corte,
tudo isto tem suporte
- depois da morte do dia.
AB
Antes de ouvir-se o trovão
um relâmpago corta o céu
provoca um grande escarcéu
quando se vê o clarão,
os galhos de um bom chorão
chicoteiam a ventania!
uma velhinha dizia
na porteira de um curral:
livrai-nos de todo o mal!
- depois da morte do dia.
PE
De uma sopa de mosquito
um morcego velho lancha,
uma serpente se arrancha
entre a grade e um cambito,
a coruja dá um grito
que estremece a freguesia,
um jegue velho anuncia
a hora com precisão
e o sol faz seu apagão
- depois da morte do dia.
AB
Como o jegue, o galo sabe
a hora com precisão
é quem acorda o sertão
antes que a noite se acabe,
mesmo que o pavão se gabe
no terreiro ele chefia,
vive cheio de energia!
é o rei do galinheiro
e quem manda no poleiro
- depois da morte do dia.
(lembram as tradiçoes)
PE
Numa noite de São João
sai fumaça da fogueira,
menino compra roqueira,
vizinhos soltam balão,
um tiro de foguetão
estremece a mataria,
um velho pega a bacia
para olhar se vê o rosto
não vendo sente desgosto
- depois da morte do dia.
AB
Pegou uma faca nova
e enfiou na bananeira
esperou a noite inteira
para ver a contraprova,
a esperança renova
numa outra simpatia,
com a água na bacia
formar com os pingos da vela
a primeira letra dela
- depois da morte do dia
PE
Ainda existe outra crença
é pôr água na garrafa
e antes de meia se abafa
com uma esperança imensa,
enterra no chão e pensa
que isto é sabedoria,
pois se aquela água fria
amanhecer no gogó
o inverno é chuva só
- depois da morte do dia.
AB
Amarra no travesseiro
uma fita bem bonita
numa oração solicit
aum rapaz moço e solteiro
que não seja aventureiro
dê-lhe boa companhia
durante a noite vigia
porque se a fita soltar
é o sinal que vai casar
-depois da morte do dia.
PE
Outra bela diversão
que acontece entre vizinho
é de compadre e padrinho
na fogueira São João,
alguém tira o chinelão
e na brasa anda que chia,
volta pela mesma via
comprovando a sua fé
e mostra que não queima o pé
- depois da morte do dia.
AB
Outra para Santo Antônio
que tem muita tradição
é amarrar com um cordão
passado no peritônio,
para pedir matrimônio
causando-lhe asfixia,
mergulhando em água fria
prometendo só tirar
quando o marido arranjar
- depois da morte do dia.
Eles falam do tempo de faculdade PE
Mais ou menos cinco e meia
no ônibus de Zé Roberto
vínhamos eu e Agliberto
com outros da mesma aldeia,
pra sair da vida feia
cada aluno pretendia,
muitos de filosofia
fizeram o curso bem feito,
nós preferimos Direito
-depois da morte do dia.
AB
Vinham Haroldo e Ronaldo,
Aloísio e Belchior,
Zé Basílio com valor
queriam o mesmo respaldo
Lelé, Marquinho e Osvaldo
estudavam economia,
buracos na rodovia
causavam grande aflição,
Deus nos dava a proteção
- depois da morte do dia.
PE
A volta era à madrugada
uns sem lanche, outros sem janta,
a barulheira era tanta
que ninguém ouvia nada,
uma zoada danada
a mulherada fazia,
até cigarro acendia
aí tudo complicava
Zé Roberto reclamava
- depois da morte do dia
AB
E na sexta, um violão
Tancredo Teles levava
no retorno ele tocavae
era grande a animação
,para ver a aparição
do cometa, a gente ia
pra serra e raiava o dia
sem o Halley aparecer
bom motivo pra beber
- depois da morte do dia.
PE
A tarde cor de latão,
ônibus quente como grelha
parava na Missão Velha
para a gente comprar pão,
a sombra da escuridão
lentamente aparecia,
na Faculdade se via
aluno matando aula
como um filhote na jaula
- depois da morte do dia.
AB
Em Barbalha aconteceu
uma coisa muita estranha
e a surpresa foi tamanha
que a todos comoveu,
o garçom o copo encheu
naquela churrascaria
na beira da rodovia
quando o copo se rachou
a cerveja derramou
- depois da morte do dia
PE
Eu apesar de tranquilo
também prestava atenção
e esquentava a discussã
oentre Vicente e Murilo
,Tadeu escutava aquilo
e discordando dizia
como era que entendia
a matéria do debatenão
se chegava ao desate
-depois da morte do dia.
AB
Direito Administrativo
por Tavares ministrado
teste bem elaborado
se tornava cansativo,
Daudet era objetivo
com piada esclarecia,
Leopoldo que escrevia
muitas palavras com "xis"
ainda se usava "giz"
- depois da morte do dia.
PE
E quando Marconizete
entrava ruim dos pés
só Gondim ganhava deze
eu não tirava nem sete
,a turma fez uma enquete
decidindo em harmonia
logo da sala saía
quando a doutora chegava
e um hino ainda entoava
- depois da morte do dia.
AB
É feito um recolhimento
pra custear a despesa
pra mandar à Fortaleza
o nosso requerimento
pedindo o afastamento
junto da pró-reitoria,
num ato de covardia
o outorgado se afina
do seu mandado declina
- depois da morte do dia
PE
Se via naquela escola
uma vez e outra não
advogado de anão
conduzindo uma sacola,
Rebouças era bom na cola
e por isto pouco aprendia,
Borges sorrindo dizia
que era mestre no Penal
mas ficava na final
- depois da morte do dia.
AB
Raniere de Mazille
o professor o provoca
Mazile não, Ypioca
Ronaldo puxa o desfile,
antes que Gondim cochile
a sala se esvazia
segue assim a romaria
para o bar de Zé Pereira
beber e falar besteira
- depois da morte do dia.
PE
E sempre na sexta-feira
quando eu perdia o transporte
botava gás no scort
pegava a aula primeira,
a segunda e a terceira;
e a quarta eu não assistia,
para o Mauriti partia
pra deixar a namorada
voltava de madrugada
-depois da morte do dia.
AB
Aconteceu no retorno
numa fatídica viagem
pedras tomando a passagem
logo depois do contorno,
não foi maior o transtorno
pela sua pontaria,
mirou na menor que havia
e a quarta marcha travoue
em Brejo Santo chegou
- depois da morte do dia.
PE
Mas minha felicidade
foi que apesar da investida
deu pra vencer a subida
e chegar até a cidade,
a outra dificuldade
que de logo aparecia
por falha da Economia
faltou peça no mercado
passei seis meses parado
- depois da morte do dia.
AB
Porém tinhas um fusquinha
que usavas no trabalho
branquinho da cor de coalho
que andava bem na linha,
quando nele a gente vinha
e a matéria discutia
a prova a gente fazia
na maior tranquilidade
tirava um dez sem vaidade
- depois da morte do dia.
PE
Vamos lembrar o Del Rey
que também nos transportav
ae nele a gente explorava
dispositivos de lei,
cada um dizia: eu sei
do Direito a teoria
e quando a questão caía
pra nós não era surpresa
vinham dois dez com certeza
-depois da morte do dia.
AB
Também tivemos tristeza
scomo a morte de Maninh
oum cara alegre e magrinho
vítima de grandes brutezas,
vivemos as incertezas
da acusação que havia
que a Paulo indicaria
como autor principal
da chacina de um casal
- depois da morte do dia.
PE
Outra hora de aflição
foi quando o doutor Valmir
mandou parar para ouvir
uma triste informação:
é que a uma operação
Rebouças se arriscaria
e que aquela cirurgia
correria risco estético
por ser ele diabético
- depois da morte do dia.
AB
Rebouças foi defender,
se não me falham as lembranças,
o professor de finanças
num momento de lazer,
ao homem tentar conter
daquela selvageria,
o punhal perfuraria
atravessando a barriga
o saldo triste da briga
- depois da morte do dia
PE
Na turma tinha um colega
por sinal estudioso
muito amigo e cauteloso
seu valor ninguém não nega,
porém na hora do "pega"
eu procurava e não via,
pois ele sempre saía
com a "carinha de amélia"
pra paquerar Auricélia
-depois da morte do dia.
AB
Na praça da Estação
numa noite enluarada
Auricélia envergonhada
segurando a minha mão
fez-me uma declaração:
que amor por mim sentia,
casamento não queria
como Daudet declarava"
o que a mulher procurava"
- depois da morte do dia.
PE
Mas no final do percurso
quase no nono semestre
você com o dom de mestre
logrou êxito num concurso,
antes de findar o curso
foi embora pra Bahia,
a turma toda sentia
a falta do companheiro,
porém foi ganhar dinheiro
- depois da morte do dia.
AB
Para instruir a doutrina
foram nossos professore
sos mais ilustres doutores
com a sua disciplina,
Valmir com a Medicina´
Plácido, a Sociologia,
Alberto, na Economia,
Emídio e Borba, Penal,
Sérgio, Constitucional,
- depois da morte do dia
PE
É verdade, eu lembro bem:
Valmir chegava de fogoe
Plácido enfrentava o jogo
com ciência e sem desdém,
Alberto vinha também
com muita diplomacia,
Borba com categoria,
Emídio enchendo linguiça,
Sérgio morto de preguiça
- depois da morte do dia.
AB
Doutor Borges, civilista,
Daudet e Martins também,
Félix que escrevia bem
em Português era artista,
Suenom engrossa a lista
quando EPB discutia,
Tavares com maestria
era muito objetivo
no rol Administrativo
- depois da morte do dia
PE
Doutor Borges faleceu
deixando muita saudade
,Daudet e Martins na idade
são mais velhos do que eu,
Félix muito enriqueceu
a nossa sabedoria,
Tavares tem primazia,
Suenon soma valor
Já é Desembargador
- depois da morte do dia.
AB
Por uma fatalidade
o curso eu não terminei,
por um bom tempo tentei
transferir de faculdade,
foi tanta dificuldade
Direito ali não havia
na região da Bahia
pra qual fui designado
era o destino selado
- depois da morte do dia.
PE
E na aula da saudade
todos lembravam você,
uns perguntavam cadê
nosso amigo de verdade,
foi para outra cidade
era assim que eu respondia,
porém cada um queria
detalhes de sua história
louvando a sua vitória
- depois da morte do dia.
AB
E quando eu fui convocado
a data ainda me lembro
foi em 13 de setembro
89 "grafado"
pois era um ato assinado
no estado da Bahia,
este ato mudaria
da minha vida o seu rumo
indicando um novo prumo
- depois da morte do dia

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Pense num trabalho que essas criaturazinhas dão!!!!
Guilherme, sobrinho tranquilo!
Aline, filha sapeca! e...
Badir, o amigo do pé, da sandália, ...

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Mengo Hexa Campeão

Mengão Campeão Brasileiro - 2009.
Parecia até um sonho,
um tremendo obstáculo!
No final deu tudo certo:
Maior foi o espetáculo...

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Mote no Posto Fiscal

Não há vivente que engula
A hóstia sem estar contrito
O homem nasce com um grito
E a alma pra dentro pula
Uma centelha articula
A explosão da ciência
Tomados pela inocência
De dois gametas fecundos
- Todos somos moribundos
Meninos cheios de ausência

A alma que perambula
Pelos confins do infinito
No livro está escrito
Que ao homem dissimula
Antes que ela escapula
E saía pela tangência
Que o poder da onisciência
Prevaleça sobre os mundos
- Todos somos moribundos
Meninos cheios de ausência

A sociedade rotula
O pobre que vive aflito
Seu universo restrito
Sufoca, prende e estrangula.
Padece feito uma mula
De carga, que indecência!
Pela subserviência
Ficam resquícios profundos
- Todos somos moribundos
Meninos cheios de ausência

O homem que ejacula
Precocemente, está frito.
Perde todo o gabarito
Com aquela que copula
Como um coelho pulula
Na maior incontinência
Portanto, sem competência:
Goza em poucos segundos
- Todos somos moribundos
Meninos cheios de ausência

O filtro que acumula
A borra, o sal, o detrito;
Tem o seu tempo restrito
Está previsto na bula
Ao tempo que acidula
Perde sua eficiência
Tendo como conseqüência
Aglomerados rotundos
- Todos somos moribundos
Meninos cheios de ausência

A luz do sol que oscula
A gota d’água, e o bonito
Arco-íris que no céu fito
Por entre nuvens ondula
E a flora se encabula
Numa formal deferência
Os ventos em congruência
De vários pontos oriundos
- Todos somos moribundos
Meninos cheios de ausência

Os pais a criança adula
Dando um brinquedo maldito:
Uma arma. Ao mal e ao delito
Desse jeito o estimula
E no futuro postula
Uma vaga na gerência
Do crime, da violência,
Dos pensamentos imundos.
- Todos somos moribundos
Meninos cheios de ausência

O capital que especula
Quando surge um conflito
Some feito um pirulito
E o mercado desregula
Dessa forma manipula
O crédito por excelência
Gerando insuficiência
Aumenta os cheques sem fundos
- Todos somos moribundos
Meninos cheios de ausência

Profissional que postula
Em observância ao rito
Notadamente erudito
Através de uma jacula
A um poeta formula
Solicitando premência:
Qual seria a conseqüência
Dos ferimentos profundos?
- Todos somos moribundos
Meninos cheios de ausência

O sangue que coagula
Tem a função de um pito
Que tem um nome esquisito
“Hemostasia” que anula
Pra que o sangue não escapula
Vem depois a aderência
Pra que evite a falência
Dos órgãos em poucos segundos
- Todos somos moribundos
Meninos cheios de ausência

Agliberto Bezerra – Juazeiro (BA) – 03 e 04 / 01 / 2009.

Sem pressão, sem estresse, sem aperreio

Sem pressão, sem estresse, sem aperreio...


Vou deixar de uma vez esta cidade
Vou morar para sempre no sertão
Vou trocar correria e poluição
Por ar puro, sossego e liberdade.
Vou viver na maior tranqüilidade
E bem longe de assalto e tiroteio
Vou ouvir passarinho no gorjeio
Numa rede no alpendre da fazenda
Vou deitar sem saudade da agenda
Sem pressão, sem estresse, sem aperreio.

De manhã ter na refeição primeira
Um copinho de leite a espumar
Um “baião” temperado no jantar
No almoço, “galinha capoeira”
Balançar matutando na cadeira
Sem temor, ansiedade, nem receio!
No radinho a viola em ponteio
Almir Sater cantarola a “Chalana”
Vez em quando uma “bicada de cana”
Sem pressão, sem estresse, sem aperreio.

Um gadinho de leite no curral
Um cavalo de cela bom de prado
Um cachorro de raça vacinado
Um jipe, uma picape ou rural.
Pra curtir o ar puro do local
Uma Harley-Davidson pra passeio
Uma casa pra curtir o veraneio
Numa praia deserta e sossegada
Vez em quando uma volta de jangada
Sem pressão, sem estresse, sem aperreio.

Francisco Agliberto Bezerra
Juazeiro (BA) - 2008